Somos do país do sim
o da tristeza em azul,
tudo o que existe é assim
neste sul.
Como um corvo empoleirado,
o meu país canta o fado.
Os corvos que em Lisboa
ainda estão no brasão
da cidade já não voam
(engaiolados ou não)
só corvejam, grasnam, gralham,
propagam o seus crocitos
para lá do Mar da Palha.
Meu país engravatado
(menos, porém, que outrora)
do grande amor sonetado,
dominado a toda a hora
pelo fado e futebol:
ah, meu país apressado,
a passo de caracol.
Domingos da Mota
© ÁGUA SILÊNCIO SEDE, Homenagem Poética a Maria Judite de Carvalho no centenário do seu nascimento, Selecção e Organização de Lília Tavares e Carlos Campos, Poética edições, Lisboa, Setembro de 2021
© ÁGUA SILÊNCIO SEDE, Homenagem Poética a Maria Judite de Carvalho no centenário do seu nascimento, Selecção e Organização de Lília Tavares e Carlos Campos, Poética edições, Lisboa, Setembro de 2021