terça-feira, 12 de outubro de 2021

A passo de caracol

                                                                    Somos do país do sim
                                                                                         o da tristeza em azul,
                                                                                         tudo o que existe é assim
                                                                                         neste sul.


Como um corvo empoleirado,
o meu país canta o fado.

Os corvos que em Lisboa
ainda estão no brasão
da cidade já não voam
(engaiolados ou não)
só corvejam, grasnam, gralham,
propagam o seus crocitos
para lá do Mar da Palha.

Meu país engravatado
(menos, porém, que outrora)
do grande amor sonetado,
dominado a toda a hora
pelo fado e futebol:
ah, meu país apressado,
a passo de caracol.


Domingos da Mota

© ÁGUA SILÊNCIO SEDE, Homenagem Poética a Maria Judite de Carvalho no centenário do seu nascimento, Selecção e Organização de Lília Tavares e Carlos Campos, Poética edições, Lisboa, Setembro de 2021

quarta-feira, 10 de março de 2021

Oblívio



No oblívio,
Qual o pior,
Enquanto vivo?
Posterior?

Ambos agridem:
A quem mais dói,
Quem ora o vive
Ou quem se foi?

Memória viva
Do esquecimento,
Ou corrosivo
Apagamento?



© Domingos da Mota

in Gazeta de poesia inédita

quarta-feira, 6 de maio de 2020

MUROS

Vivemos a dois
passos, tão distantes, com
muros de silêncio

de permeio.
Os muros altos, farpados,
arrogantes.

© Domingos da Mota

Boletim da Pauta, Edição/transcrição: Hélder Teixeira, Abril 2020 #5